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sábado, 1 de abril de 2017

Abril



O calendário teima em marcar o dia certo.
É desnecessariamente Abril e o sol parece ter perdido toda a vergonha.

Não sei se por desejo, ou necessidade, teimo em inventar vontades 
com nomes e faces
de gente.
A minha vida teima em ser um terminal de aeroporto
onde as pessoas chegam e partem.

Aprendi que não nos devemos prender demasiado a alguém que não sabe onde ficar
- as despedidas são sempre dolorosas.
Mas é inevitável ser quem sou: gosto de abraçar; 
de abrir a porta para que entrem
e se sentem, a conversar.

(Talvez lhes pergunte: “Queres ficar o resto da tua vida?”)

Devo ter um coração demasiado ansioso, com vontade de se entregar
a mãos que nunca aprenderam a segurar
Ainda não aprendi a limpar os estilhaços
das quedas antigas. E é desnecessariamente Abril, no calendário
E gostava de abrigar no peito toda a primavera: o azul do céu; o canto das aves;
o cheiro de todas as flores. Queria que no meu peito fosse sempre primavera, mas

por mais que regue, por mais que o tempo passe, flores de plástico não crescem. 



PedRodrigues

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