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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Último de Setembro

Foi pouco antes da última vez que te vi. Um amigo meu partilhou comigo uma fotografia tua no meu local favorito, a minha praia, onde tantas vezes fui ver o mesmo mar que olhavas, no mesmo sítio em que estavas, para tentar mitigar os efeitos da tua ausência na minha vida. Foi um pouco antes dessa última vez, numa fotografia aleatória, de um momento aleatório da tua vida que partilhei nas minhas redes sociais umas pequenas frases, escritas há uns anos: “lição nº1: ama-te; lição nº2: lembra-te da lição nº1 quando amares alguém”. Parece que a vida me vai dando estas chapadas com as costas da mão para me acordar. Receio não ser fácil viver das ideias que nos são vendidas. Viver da quase utópica crença de um amor e uma cabana, sem os agentes nefastos do mundo a levantarem furacões que tudo transformem em entulho. O que eu sempre quis foi poder pendurar quadros com alguém numa casa, e ficar. Ficar a acrescentar quadros pelas paredes com imagens de uma vida passada lado a lado. Vestir as paredes vazias e construir uma casa, com memórias felizes que nos aqueçam nos invernos em que tudo se torna mais líquido e menos possível - há estações assim. Mas voltemos à última vez que te vi. Os amigos continuam a apontar-me o caminho do que vem depois - sem ti. Dizem que já tens outra pessoa, e que já fazes outra vida, não coincidente com a minha. Não me preocupa isso. Quero que sejas feliz. Claro que preferia que o fosses comigo - mas as coisas são como são, e cada um tem a sua estrada, a sua contramão. Devo continuar a falar de ti, porque os dias que passámos juntos foram, efectivamente, bons, mas usar-te-ei neste momento como um exemplo para explicar ou enquadrar novas situações. É engraçado como o tempo nos ensina efectivamente a entrar nesse jogo do amor próprio: a lição número 1. Devo amar primeiro os olhos, e depois a imagem que eles vêem. Deve ser assim. E tentar evitar o erro da ondas, que repetem o mesmo movimento de autodestruição ao longo da sua vida: erguem-se com força, até se despenharem estrondosamente na areia. Vou apagar a tua imagem, entretanto. Já tenho o dedo no botão de delete


PedRodrigues

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