Ficar por
aqui a ouvir-te de passos mudos pelo corredor deixa-me sempre inquieto. Ainda
me lembro quando os dias eram só dias e passavam por mim como dias. Ainda me
lembro do tempo que caía lá fora de gota água em tempestade, do vento que
assobiava nas frechas das janelas enquanto eu me ficava por aqui. Era triste
por aqui. Era pequeno por aqui. Era nada por aqui. Plantava corações à laia de
quem espera que nasçam amores perfeitos. Mas nada era perfeito, aliás era tudo
quase perfeito e eu berrava de garganta em riste à procura que o mundo me
dissesse alguma coisa. O mundo continuava calado a girar no seu eixo, ignorando
que eu, pequeno, também fazia parte dele e precisava de uma explicação. Era
tudo quase perfeito e nesse limbo entre a perfeição e a imperfeição as coisas
não eram mais que coisas, nem as pessoas mais que pessoas e eu sentia-me
incapaz. Da varanda olhava a rua e na rua pessoas passavam por pessoas e não se
olhavam nem se viam, como se cada um existisse sozinho neste mundo. Que coisas
somos nós, que todos os dias nos inquietamos pela nossa insignificância e não
somos capazes de perceber que afinal não estamos sozinhos, que afinal fazemos
parte de algo plural e não somos cada um por si. Que coisas somos nós que
almejamos a ser mais que o sol, mais que as estrelas e não entendemos que não
brilhamos sozinhos, sem que alguém nos acenda. Andamos por aqui. Arrastamo-nos
por aqui. Desesperamos por aqui e não somos capazes de descer do nosso cavalo,
dar a mão ao próximo, ou marcar humildemente a nossa posição. Preferimos passar
invisíveis uns pelos outros a olhar-nos ao espelho a brilhar. Ficar por aqui a
ouvir-te de passos mudos sempre me inquietou. Vieste de onde vêm as coisas que
me fazem bem. E num dia de sol, como astro a brilhar no céu que és,
iluminaste-me. Hoje todos me vêem graças a ti. Tornaste-me especial, ou no meu
peito eu sinto-me especial e no teu sorriso tenho a certeza. O mundo pode
passar despercebido por nós, esquecer-se de nós, mas não nos apaga. E enquanto
nos amarmos e tu andares de passos mudos pelo soalho cá de casa ninguém se
esquecerá que estamos aqui. Ninguém é especial sozinho, por isso eu tenho-te a ti
e tu tens-me a mim – e nós temos o mundo.
Amor
Tempo
Um momento
Limitado
Infinito
No nosso
coração
Amor
PedRodrigues
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