Conto
as pedras da calçada e tu não vens. Conto os carros a passar e tu não vens.
Conto os dias que passam e tu teimas em não vir. Deixo-me ficar por aqui: feito
de pedra, feito de ossos, feito de carne, feito de ar, feito de ausência.
Conto-te na minha pele e tu não vens. Pergunto-me uma vez
-Onde
estás?
Pergunto
novamente
-Quando
vens?
Conto
as dores que me fazem: tu não vens. Tu nunca vens. Procuro-te pelo deserto,
aponto-te o dedo
-És
tu?
Nunca
és. Tenho saudades tuas. Tenho sempre saudades tuas. Ainda estás comigo e eu já
tenho saudades tuas. Tornas-te neste vazio e eu por aqui fico a contar-te pelos
cantos. Janto a pensar em ti. Ligo a televisão a pensar em ti. Tomo banho a
pensar em ti. No outro dia contei três cabelos teus no ralo da banheira. Tu não
estavas.
-Onde
estás?
Depois
chorei em conjunto com o chuveiro. A água corria e eu pensava em ti. Juro que
pensava em ti. Contava os pingos e tu não vinhas. Tu não vieste.
-Quando
vens?
Arrepio-me
de febre e tu não vens. Se morrer tu não vens. Se viver tu não vens. Tenho
tantas saudades tuas. Tenho insónias feitas de saudades tuas. Tenho textos
escritos de saudades tuas. Vejo-te nas paredes e nos vidros dos carros e nos
anúncios perdidos pelos candeeiros. O mundo é feito de ti. O meu mundo é feito de
ti, mas tu não estás. Sinto-me parado. Sinto o meu coração parado quando não
estás. Aponto-te o dedo
-És
tu?
Não.
Não és tu. Nunca és tu. O tempo continua parado e está sol lá fora. Vou-me
deixando ficar a contar-te por aí. Um dia acabarás por voltar. Todos acabamos
por voltar, um dia. Vou ficando por aqui a contar: um, dois, três; um, dois,
três; um, dois, três. E nesta espera demorada entre o dia em que partiste e o
dia em que voltarás, vou contando o teu vazio pela cama. Nesta urgência que
tenho de te abraçar vou contando os segundos que me separam de ti. Entre o estar
e o não estar só restas tu. Tudo o resto é feito de nada.
-És
tu?
-Onde
estás?
-Quando
vens?
PedRodrigues
"Espero ansiosamente essa ternura com que me olhas quando chego, e que invariavelmente me fere o peito, dizendo-me (sem querer) que estive fora anos, séculos, eternidades e que a minha ausência se fez sentir."
ResponderEliminarV. Grandchild
(permite-me esta ousadia)
LINDO!
ResponderEliminarMas quando ??
ResponderEliminar