As
promessas de Terça não têm de ser a realidade de Sexta. As coisas não funcionam
assim. Juras de amor? Eventualmente, todos as fazemos. Agora o resto, aquilo
que acontece, não está ao alcance de todos. É preciso vontade genuína, coragem
genuína e o mais importante: aquilo que tantas vezes nos escapa, mas que é tão
crucial: amor genuíno.
Eles viviam uma dessas histórias de amores
desencontrados: ele gostava de Ana, Ana gostava dele, mas ainda nutria de
sentimentos por outra pessoa.
-Ele
funciona como o marionetista das tuas emoções.
-Eu
sei…
-Acho
que essa é a minha deixa para partir. – silêncio – Que queres que faça?
-Corta-lhe
os fios, por favor…
-Não
me cabe apenas a mim cortar-lhe os fios. – um silêncio maior que o anterior –
Preciso de saber se é isso que realmente queres.
Ana
olhava-o confusa.
-Quero
esquecê-lo, mas é difícil. Sempre que ele aparece sinto um aperto no peito.
Sinto raiva dele, é um estúpido. – esperneava e esbracejava a cada frase – Mas
ao mesmo tempo fico triste quando ele me ignora.
Ele
contraía os dedos. Os ossos estalavam à medida que se esmagavam uns nos outros.
Uma vontade homicida fervilhava-lhe no sangue. Sentia-se um dos lados de um
triângulo escaleno. O menor dos lados. O lado que mais tinha a perder no meio
de toda aquela parafernália de fios e marionetas. As emoções de Ana eram ditadas
pelas vontades do outro e as emoções dele eram ditadas pelas emoções de Ana. No
fundo, ele era a derradeira marioneta. No fundo, era ele quem mais tinha a
perder, mas também era ele quem mais vontade tinha de lutar.
-Gosto
de ti o suficiente para já não conseguir passar um dia sem te dizer o que quer
que seja. Quando às vezes te calas, procuro por algo que me faça lembrar o teu
rosto: os teus olhos, os teus lábios, o teu nariz. Quando me faltas,
procuro-te. Porque gostar é mesmo isso. E, para mal dos meus pecados, eu gosto
de ti. – pegou-lhe na mão e continuou – Se realmente estiveres disposta a
apostar em mim, teremos de cortar o mal pela raiz. Não acredito nessa coisa de
que um novo amor apaga o anterior. Não creio que as coisas sejam assim. Mas
acredito que um amor verdadeiro, um amor genuíno, supera tudo.
-Achas
que o que sentimos um pelo outro é um amor desses? Um amor genuíno?
-Se
não achasse, já teria partido. E tu, a esta hora, serias apenas uma recordação.
Deves sentir o mesmo, porque não te vejo a arredar pé.
A
mão dela misturava-se na mão dele: pele com pele, carne com carne, sangue com
sangue.
-Realmente
já não imagino a minha vida sem ti…
-E o
marionetista?
-Cortamos-lhe
os fios: em conjunto.
(Beijaram-se.)
As
promessas de Terça, às vezes, são a realidade de Sexta.
PedRodrigues
Brutal :)
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