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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Amor obsessivo e compulsivo

Quando penso em ti, penso no português suave que os teus lábios gesticulam. Nas palavras que parecem sair numa língua estrangeira que as torna tão diferentes, mas tão belas. Sem dar por isso, perco-me a percorrer os meus lábios em busca dos beijos que deixaste perdidos. Suspiro  sete vezes. Percorro a casa e dou cinco voltas sobre mim mesmo até ficar tonto. Tenho o timbre da tua voz guardado em mim e ele guia-me mesmo quando as luzes se apagam. Sei que achas piada a toda a minha metodologia. Que chegas a corar quando grito ao mundo várias vezes – dez, para ser mais preciso – que te amo

-Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.

Compreendo que retribuir o meu amor não seja fácil. As pessoas olham para mim como se fosse um louco, um lunático, um maluquinho. Apenas porque conto os carros pretos antes de atravessar a estrada; ou porque sinto necessidade de organizar a minha comida por cores; ou porque ligo e desligo o interruptor nove vezes. As pessoas olham-me de lado, julgam-me, mas tu não. Tu entendes esta minha loucura. Amas esta minha loucura. Tu percebeste que o mundo necessita de pessoas como eu. Pessoas que levem o amor ao extremo. Alguém que desafie as leis naturais das coisas. E tu achaste piada a todo este parque de diversões e não tiveste medo de entrar. Olhaste-me como nunca ninguém me olhou: de perto e sem medo. Percebeste que sou apenas uma pessoa assustada, com medo da solidão.

-Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.

E é este meu amor obsessivo e compulsivo que nos vai unindo um ao outro. Por ti vou largando os velhos hábitos de procurar os germes que me sugam a pele. Por ti procuro um pouco de normalidade

-Amo-te. Amo-te. Amo-te

Por ti desligo a luz do candeeiro apenas uma vez. Vejo a tua imagem, decoro-a, apago a luz. No escuro consigo encontrar-te. Estás ao meu lado e as minhas mãos conseguem alcançar-te. Talvez ames a minha loucura por estares farta da normalidade. Entendo que seja difícil amar-me – por vezes nem eu me aguento.
Apetece-me beijar-te doze vezes. Permites-me? Apetece-me ouvir-te dizer, no teu português suave

-Amo-te, meu louco.

Podes dizer baixinho. Não há problema, eu oiço e respondo

-Eu também te amo. Eu também te amo. Eu também te amo.

Ou muito me engano ou o mundo precisa de pessoas como nós. Casais improváveis. Provas vivas de que o amor não se rege por nenhuma lei que não seja a lei do próprio amor. Nunca pensei, quando te olhava ao longe e te amava sem te dizer, que um dia partilharíamos a mesma cama. Contigo sinto-me amado e um pouco normal. Agradeço todos os dias esta obsessão e compulsão que sinto por ti

-Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.


PedRodrigues

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