Quando penso em ti, penso no
português suave que os teus lábios gesticulam. Nas palavras que parecem sair
numa língua estrangeira que as torna tão diferentes, mas tão belas. Sem dar por
isso, perco-me a percorrer os meus lábios em busca dos beijos que deixaste
perdidos. Suspiro sete vezes. Percorro a
casa e dou cinco voltas sobre mim mesmo até ficar tonto. Tenho o timbre da tua
voz guardado em mim e ele guia-me mesmo quando as luzes se apagam. Sei que
achas piada a toda a minha metodologia. Que chegas a corar quando grito ao
mundo várias vezes – dez, para ser mais preciso – que te amo
-Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.
Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.
Compreendo que retribuir o meu
amor não seja fácil. As pessoas olham para mim como se fosse um louco, um
lunático, um maluquinho. Apenas porque conto os carros pretos antes de
atravessar a estrada; ou porque sinto necessidade de organizar a minha comida
por cores; ou porque ligo e desligo o interruptor nove vezes. As pessoas
olham-me de lado, julgam-me, mas tu não. Tu entendes esta minha loucura. Amas
esta minha loucura. Tu percebeste que o mundo necessita de pessoas como eu.
Pessoas que levem o amor ao extremo. Alguém que desafie as leis naturais das
coisas. E tu achaste piada a todo este parque de diversões e não tiveste medo
de entrar. Olhaste-me como nunca ninguém me olhou: de perto e sem medo.
Percebeste que sou apenas uma pessoa assustada, com medo da solidão.
-Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.
Amo-te.
E é este meu amor obsessivo e
compulsivo que nos vai unindo um ao outro. Por ti vou largando os velhos
hábitos de procurar os germes que me sugam a pele. Por ti procuro um pouco de
normalidade
-Amo-te. Amo-te. Amo-te
Por ti desligo a luz do candeeiro
apenas uma vez. Vejo a tua imagem, decoro-a, apago a luz. No escuro consigo
encontrar-te. Estás ao meu lado e as minhas mãos conseguem alcançar-te. Talvez
ames a minha loucura por estares farta da normalidade. Entendo que seja difícil
amar-me – por vezes nem eu me aguento.
Apetece-me beijar-te doze vezes.
Permites-me? Apetece-me ouvir-te dizer, no teu português suave
-Amo-te, meu louco.
Podes dizer baixinho. Não há
problema, eu oiço e respondo
-Eu também te amo. Eu também te
amo. Eu também te amo.
Ou muito me engano ou o mundo
precisa de pessoas como nós. Casais improváveis. Provas vivas de que o amor não
se rege por nenhuma lei que não seja a lei do próprio amor. Nunca pensei,
quando te olhava ao longe e te amava sem te dizer, que um dia partilharíamos a
mesma cama. Contigo sinto-me amado e um pouco normal.
Agradeço todos os dias esta obsessão e compulsão que sinto por ti
-Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.
Amo-te. Amo-te.
PedRodrigues
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