Desligou o telemóvel. Ainda agora
acabara de lhe dizer que a amava e sentia-se na urgência de lho repetir.
Resolveu-se por um suspiro. Amanhã, pensou. Amanhã é um novo dia, cheio de
novas oportunidades. Amanhã volto a dizer que te amo, pensou. Fechou a luz.
Voltou-se para o lado, fechou os olhos, imaginou-a ao lado dele e deixou-se
vencer pelo sono.
As luzes dos candeeiros
iluminam a rua,
As pedras da calçada são
minhas e tuas,
Eu amo-te
Sentamo-nos a fitar o céu
vestido de negro
O brilho das estrelas
confunde-se nos teus olhos
Foges de mim e pedes-me que te
alcance
Eu ainda te amo
Busco a tua mão que teima em
fintar-me
Enlaço os meus dedos nos teus
dedos
Conto constelações nos teus
lábios e beijo-te
Eu hei-de sempre amar-te
Acordou. Ao lado dele
continuava o vazio deixado por ela. Pegou no telemóvel, viu as horas e
deixou-se ficar a olhar o tecto. Quando saísse da cama começaria um novo dia
cheio de novas possibilidades. Hoje voltaria a dizer que a amava. Hoje voltaria
a ouvir a voz dela. Um novo recomeço para ambos. Bocejou, espreguiçou-se e
finalmente decidiu levantar-se. Os pés tocaram o chão frio. Hesitou um pouco, ganhou
coragem: comecemos, pensou. Abriu a janela. As luzes dos candeeiros já não
iluminavam a rua. A cidade vestia-se de gentes apressadas. As pedras da calçada
eram de todos. Ele ainda a amava.
PedRodrigues
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