Quando a conversa termina fica o
vazio. Um silêncio espesso que consome o pouco que resta de nós. Há lágrimas.
Consigo ver as lágrimas. Ouvi o tremor na voz dela: havia lágrimas. Antes de a
conversa terminar o vazio não existia – o vazio era o futuro, uma hipótese
sólida do futuro. Antes de a conversa terminar houve gritos e palavras
arremessadas como objectos. Nada magoa tanto como as palavras que arremessamos
como objectos. O coração acelera de adrenalina. Os pensamentos fragmentam-se e
por vezes não fazem qualquer sentido. Disparamos palavras; apontamos falhas,
defeitos, erros; circulamos à volta dos mesmos temas, das mesmas acusações.
Antes de a conversa terminar não há vazio, há caos. No meio desse caos nada se
cria, nada se constrói: é a anarquia dos sentimentos. Tenho vontade de dizer que
te amo, - porque, de facto, amo – mas não digo. Tenho vontade de te abraçar e
de te dizer para parares e me abraçares, – porque, de facto, é o que quero –
mas não digo. Tenho vontade de ti, como tu tens vontade de mim, mas deixo-me
ficar em modo de combate, pronto a ripostar as tuas investidas. Tu gritas.
Guerreias comigo como se fosse o inimigo e precisasse de ser vencido – nisso,
estamos em sintonia. Não sou o teu inimigo, nem tu és a minha inimiga. Fomos
apanhados pela vida e nem sempre a vida traz coisas boas consigo. Mas não
culpemos apenas a vida e as inevitabilidades da vida. Culpemo-nos a nós. Em
algum momento acabámos por errar. Eu errei, tu erraste. Fizemos merda. Talvez
fosse inevitável, ou talvez fosse evitável: há sempre dois lados na mesma
moeda. Gostamos de assumir o inevitável como a resposta certa, mas bem lá no
fundo sabemos que não é. Podíamos ter evitado. Como? Não sei. Na verdade
não sei. Não sabemos. Podíamos, de alguma forma mais astuta e menos belicosa,
ter evitado todo este banho de sangue. Os erros, tal como os obstáculos,
existem para serem, primeiramente, evitados e, se for o caso, – se for
impossível evitar esses erros, esses obstáculos – existem para serem superados.
Durante a conversa usamos os erros e os obstáculos da pior forma possível: como
armas de arremesso. Atiramo-los ao acaso na esperança que magoem, que marquem.
Atiramo-los para mostrarmos que estamos certos. Não estamos. Calamo-nos.
Recuperamos o fôlego. Tentamos meter a cabeça no lugar – apesar de tudo; apesar
de todas as feridas e mutilações. No silêncio há lágrimas. As lágrimas são o pó
que sobrou dessa luta. Então acalmamo-nos. Dizemos finalmente o que é realmente
importante: eu amo-te e tu amas-me. No entanto, há ainda problemas por
resolver, mudanças que precisam de acontecer para que tudo acabe da melhor
forma possível. Eu quero estar lá contigo e tu queres estar lá comigo, quando
toda esta tempestade passar. Temos a certeza disso. É com essa certeza que nos
comprometemos um ao outro. A certeza da mudança é incerta, mas é necessária. Eu
prometo mudar, preciso de mudar: por ti e para ti. Porque mereces o melhor de
mim, não apenas a possibilidade do melhor de mim. Até a conversa terminar há
caos: nada se cria, nada se constrói. Durante a conversa eu amo-te. Depois de a
conversa terminar, no vazio, eu ainda te amo. E choro-te e escrevo-te: porque
mesmo neste vazio é apenas o teu rosto - com, ou sem lágrimas - que consigo encontrar.
Maravilhosamente retratado :) de volta ao teu melhor, parabéns !
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