Tenho saudades tuas. Só o que
está ligado se pode partir, é certo. Nós estávamos ligados, como todos os bons
amantes. Só o que está ligado se pode partir, repito. Tenho saudades tuas.
Tenho saudades nossas e de tudo o que era nosso. O mundo era nosso. O sol
nascia, o sol punha-se, e nós estávamos juntos, cá dentro, onde tudo parecia
certo, onde estávamos protegidos. Cá dentro, onde apenas existíamos eu e tu,
nada poderia dar para o torto. Havia gargalhadas, beijos, declarações ingénuas
de amor, havia filmes noite adentro, poemas recitados, olhares escondidos e mais
tarde revelados, carícias e abraços intermináveis. Cá dentro estávamos seguros.
Mas o mundo acontece, também, lá fora. Ninguém se pode esconder para sempre da
vida. Há os refúgios, as escapadelas, as férias, mas a vida acaba sempre por
nos encontrar. Acaba por nos acontecer e, se não estivermos preparados, acaba
por nos atropelar a duzentos quilómetros por hora. Acho que foi isso que nos
aconteceu. Nenhum de nós estava preparado para o mundo real, onde as coisas nem
sempre são como queremos. Onde todas as excepções têm regras. Não estávamos
preparados para nada disso. Distâncias abismais, pessoas aleatórias a
aparecerem e a desaparecerem à nossa volta, medos, dúvidas, confusões. No
fundo, problemas. Até ali eles sempre nos tinham passado ao lado, como se
tivéssemos um campo de forças à nossa volta que os desviava. Até ali nada nos
podia separar. Era para sempre, pensávamos nós na nossa ingenuidade. Era para
sempre. Só que nunca é. Nada é para sempre. Tudo dura até um dia. Viemos do pó
e ao pó voltaremos, sempre ouvi dizer. Neste momento é isso que nós somos: um
resto que ficou desses dias. Fomos carne na mesma carne, músculo contra
músculo, pele na mesma pele. Fomos inteiros, até um dia nos estilhaçarmos em
mil. Hoje somos as memórias que guardamos desses dias, dessas gargalhadas,
dessas carícias, desses poemas ditos ao desbarato. Hoje somos a saudade. Somos
essa noção concreta do que um dia foi abstracto. Será para sempre, um dia
pensei contigo. E será para sempre o momento do teu sorriso quando te dizia que
te amava. Será para sempre a arritmia que sentia quando me sorrias embriagada
de amor. Serás para sempre, até um dia. Serás para sempre enquanto te procurar
no meu telemóvel, nas minhas roupas e por toda a parte. Serás para sempre
enquanto acreditar. Serás para sempre nesta saudade
Dos teus lábios junto
À carne dos meus
Cura-me do veneno
Que é não ter-te
Procura-me nas tuas
Memórias, como eu
Te procuro nas minhas
E dá-me a mão devagar
Como se o tempo parasse
E nada tivesse que
Mudar
Serás para sempre até ao dia
em que estas palavras estiverem gastas. Porque passaste pela minha vida e, para
o bem ou para o mal, acabaste por ficar presa em mim.
Repito-te: (pro)cura-me.
PedRodrigues
Está lindo, parabéns! :)
ResponderEliminarLiiindo! Adorei!
ResponderEliminar