Ao Pedro e à
Patrícia
Ninguém
sabe o momento certo. O segundo exacto em que a última molécula de oxigénio é
respirada. Num segundo ainda cá estamos, no outro, já não. Há uma linha ténue
que separa estas duas condições. Uma margem temporal imperceptível. Num segundo, uma mãe segura o filho nos seus
braços, ainda vivo; no outro, tem-no morto, nos braços. O que existe depois é a
revolta. A dor. O vazio. O espaço que fica por dentro e que nada parece ser
capaz de preencher. Diz-se que o tempo passa e tudo cura. Mas as marcas acabam
por ficar connosco para sempre. O vazio pode diminuir, mas não deixa de ser
vazio. Agora não há risos, nem brincadeiras, nem gargalhadas. Agora não há
palavras de revolta, nem guerras, nem birras. Não somos estrelas no céu porque
foi-nos dado um lugar na terra. Um propósito mundano. Somos feitos da mesma
matéria: cada um no seu espaço. Os mortos não nos olham de cima. Depois daquele
segundo resta apenas uma ausência cega – talvez por isso nos fechem os olhos. A
morte é a diferença entre a alegria e a tristeza. A companhia e a solidão.
Quando morre alguém que amamos, parte de nós morre com essa pessoa. Fica a
saudade. E a saudade é um infinito muito grande no peito: nada o preenche.
Puta
que pariu a morte!
PedRodrigues
Um texto que não merece comentários, mas sim elogios, pela forma real e directa como aborda a puta da morte. Só queria ter a capacidade de a descrever com tanta realidade
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