Pensou: não há nada pior que
alguém que te rasgue por dentro, alguém que te roube o melhor de ti, alguém que
te apague o sorriso e a vontade. Nem sempre a vida é a direito. Os precipícios
existem para nos despenharmos a duzentos quilómetros por hora, ou aprendermos a
voar. As falhas são inevitáveis. Os erros são inevitáveis. O desamor é
inevitável. Às vezes. Tantas vezes. A melhor forma de apagar quem dói é
chegarmos à conclusão que não merecemos essa dor. Evitar. Erguer. Olhar em
volta e percebermos a necessidade de voltar a respirar o ar puro que é a
esperança. Acordar o sangue nas veias para que volte a vibrar pelo corpo.
Preencher os vazios com a beleza dos dias que acontecem à nossa volta.
Respirar. Com vontade genuína de viver. Sem fantochadas. Guardar as lágrimas na
algibeira - se vamos chorar, que seja por algo, ou alguém, que valha a pena. Se
vamos berrar que seja por alguém que nos queira ouvir. Se vamos amar que seja
por alguém que mereça esse amor. Talvez porque a razão não escolhe. Talvez
porque o coração não escolhe. Talvez porque depois de carregada, essa arma só
pode ser disparada. Cuidado. Antes viver de amor, que morrer do mesmo. O cheiro
das saudades não aparece na autópsia – dizem. E se tacteamos o precipício que
seja para olhar os pássaros e aprender a voar. Quem sabe, meu amor, se não te
encontro nesse voo rasante.
PedRodrigues
Inacreditavelmente belo.
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