De longe olhamos momentos que,
embora sejam também nossos, não o são totalmente. Pertencem a outros, com toda
a bagagem que os outros souberam guardar e juntar ao longo do tempo. Ao longe
somos apenas espectadores atentos. Pessoas que podem chorar ou arrepiar-se com
as palavras e os gestos. Vi aquele beijo como um desses gestos. Uma leveza
lindíssima entre a testa dela e os lábios dele. Vi a forma como ela lhe
ofereceu esses centímetros de si e, nesses centímetros, toda ela estava a
entregar-se ao beijo dele. Vi, ali, o mais belo sinal de respeito entre duas
pessoas. A inocência de um simples beijo, a sinceridade, a jura de vermelho
sangue para a vida. Talvez o tempo, essa coisa que se move sem darmos conta,
desgaste esse beijo. Talvez haja guerras, momentos menos bons. Mas acredito
firmemente na força dinâmica daquele beijo. O vestido branco, o laço dele. Os
sorrisos. A alegria de todos os que os rodeavam naquele momento. Há momentos
que, embora sejam também nossos, não o são totalmente. Talvez mais ninguém
tenha reparado na sinceridade do gesto. Encararam como apenas um símbolo
necessário para lacrar a legalidade da cerimónia. Mas eu vi. E acredito na
intemporalidade destas coisas. O amor está escondido nas trivialidades do dia a
dia. É nas pequenas coisas que ele se decide. Um dia o vestido, o laço, as
cores garridas dos convidados serão apenas recordações. Fica apenas o beijo. A
repetição diária dessa coisa que parece tão pequena e, no entanto, é grande o
suficiente para ligar duas pessoas uma vida inteira.
PedRodrigues
Sem comentários:
Enviar um comentário