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sábado, 13 de abril de 2013

Outro poema sem número, nem título


Queria prender-te
nestas palavras
Escrever-te
Misturar-te
Com a tinta
Da caneta
Amar-te
a cada letra
Sentir-te
a cada frase
És a mão que guia 
a minha mão
Amar-te
e sentir-te
e escrever-te
e misturar-te
Eu em ti
Tu em mim
Tão poéticos
Tão juntos
Somos a tinta que seca
Nas folhas
Presos um no outro
Feitos um do outro
Meu amor

PedRodrigues

terça-feira, 9 de abril de 2013

As promessas de Terça


As promessas de Terça não têm de ser a realidade de Sexta. As coisas não funcionam assim. Juras de amor? Eventualmente, todos as fazemos. Agora o resto, aquilo que acontece, não está ao alcance de todos. É preciso vontade genuína, coragem genuína e o mais importante: aquilo que tantas vezes nos escapa, mas que é tão crucial: amor genuíno.
 Eles viviam uma dessas histórias de amores desencontrados: ele gostava de Ana, Ana gostava dele, mas ainda nutria de sentimentos por outra pessoa.

-Ele funciona como o marionetista das tuas emoções.

-Eu sei…

-Acho que essa é a minha deixa para partir. – silêncio – Que queres que faça?

-Corta-lhe os fios, por favor…

-Não me cabe apenas a mim cortar-lhe os fios. – um silêncio maior que o anterior – Preciso de saber se é isso que realmente queres.

Ana olhava-o confusa.

-Quero esquecê-lo, mas é difícil. Sempre que ele aparece sinto um aperto no peito. Sinto raiva dele, é um estúpido. – esperneava e esbracejava a cada frase – Mas ao mesmo tempo fico triste quando ele me ignora.

Ele contraía os dedos. Os ossos estalavam à medida que se esmagavam uns nos outros. Uma vontade homicida fervilhava-lhe no sangue. Sentia-se um dos lados de um triângulo escaleno. O menor dos lados. O lado que mais tinha a perder no meio de toda aquela parafernália de fios e marionetas. As emoções de Ana eram ditadas pelas vontades do outro e as emoções dele eram ditadas pelas emoções de Ana. No fundo, ele era a derradeira marioneta. No fundo, era ele quem mais tinha a perder, mas também era ele quem mais vontade tinha de lutar.

-Gosto de ti o suficiente para já não conseguir passar um dia sem te dizer o que quer que seja. Quando às vezes te calas, procuro por algo que me faça lembrar o teu rosto: os teus olhos, os teus lábios, o teu nariz. Quando me faltas, procuro-te. Porque gostar é mesmo isso. E, para mal dos meus pecados, eu gosto de ti. – pegou-lhe na mão e continuou – Se realmente estiveres disposta a apostar em mim, teremos de cortar o mal pela raiz. Não acredito nessa coisa de que um novo amor apaga o anterior. Não creio que as coisas sejam assim. Mas acredito que um amor verdadeiro, um amor genuíno, supera tudo.

-Achas que o que sentimos um pelo outro é um amor desses? Um amor genuíno?

-Se não achasse, já teria partido. E tu, a esta hora, serias apenas uma recordação. Deves sentir o mesmo, porque não te vejo a arredar pé.

A mão dela misturava-se na mão dele: pele com pele, carne com carne, sangue com sangue.

-Realmente já não imagino a minha vida sem ti…

-E o marionetista?

-Cortamos-lhe os fios: em conjunto.

(Beijaram-se.)

As promessas de Terça, às vezes, são a realidade de Sexta.

PedRodrigues

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Conversa imaginada (?)


-Por que razão me escolheste a mim?

A verdade é que ele não sabia muito bem qual a razão de a ter escolhido a ela. Ninguém sabe por que razão amamos quem amamos no meio de tantas outras possibilidades de amor. O coração quer, o coração manda, não há grande volta a dar. Não escolhemos a dedo porque as coisas não funcionam assim. Há as pessoas e aquilo que as pessoas são para nós. Algumas entranham-se sem razão aparente. Ela era para ele uma dessas pessoas.

-No meio de tantas raparigas: mais bonitas, mais inteligentes, mais certas para ti. Porquê eu?

Porquê ela?

-Conheces tão pouco de mim.

Às vezes o pouco parece tanto. Às vezes basta um sorriso a meio de uma conversa. Basta uma palavra bem empregue a meio de uma frase. Basta o click no interruptor. Às vezes, se nos deixarmos perder no momento, um rio pode parecer um mar, uma praia um deserto e uma estrada pode parecer infinita. Há coisas que não têm uma explicação lógica – ou não precisam de uma explicação lógica. Esta era uma dessas coisas. Este era um desses enigmas do coração. No meio de milhares de pessoas, de centenas de amigos, conhecidos e simpatizantes havia ela. A mais improvável das soluções. A mais improvável, mas não a menos certa.

-Que queres que te diga? Que o mundo à minha volta se dissolve quando falo contigo? Que dou por mim a olhar para as tuas fotografias e a imaginar-me ao teu lado? Queres que diga que o meu corpo se contrai quando não estou contigo? Ou que sempre que estou contigo rezo para que o tempo pare?

-Mas como me encontraste no meio da multidão?

-Não sei se já te disse: aos meus olhos tens a tendência teimosa de te destacares, estejas tu onde estiveres.

-Sou assim tão especial?

-Para mim és especial e isso deve contar para alguma coisa, não?

-E se eu não gostasse de ti como gostas de mim?

-É esse o caso?

-Não, mas podia ser.

-Se isso acontecesse teria duas opções: ou ficava no meu canto a lamber as feridas, ou continuava a lutar. Acho que é assim que se descobrem os grandes amores: quando a vontade de lutar por alguém se contrapõe ao dramatismo da rejeição.

-E se mesmo assim não fosse suficiente lutar? Ou melhor: quando devemos parar de lutar?

-Pela pessoa certa? Nunca.

-Como sabes que eu sou a pessoa certa?

-Não sei, mas eventualmente hei-de saber. A vida é como um puzzle com milhões de peças. E neste puzzle, como em todos os outros, apenas as peças certas encaixam umas nas outras.

-É verdade.

PedRodrigues