-É como viveres uma vida inteira
à procura de algo que nunca irás encontrar...
E a verdade é que ela tinha
razão. Há coisas que procuramos uma vida inteira, coisas às quais dedicamos os
nossos dias e as horas dos nossos dias, mas que, no final das contas, não
encontramos. Há viagens sem rumo: talvez esta seja a minha. Talvez esta seja a
minha tragédia pessoal. Todos temos as nossas tragédias pessoais. Todos
partilhamos essas tragédias pessoais
-Quando partilho a minha tragédia
ela parece-me menos grega
Somos como a chuva que se
despenha no chão. Caímos e estilhaçamo-nos uns nos outros. Acontecemos uns nos
outros ao acaso
-Tive a sorte de te conhecer
É um acto caricato, a nossa vida.
Agimos e somos porque agimos. Agimos e conhecemo-nos porque agimos. Viver é um
acto caricato. É uma sucessão de encontros casuais com o que nos rodeia. Somos
ao acaso, mas não ficamos nas vidas uns dos outros por acaso. Quem fica sabe qual
a razão de ficar. Somos como pingos de chuva numa poça: caímos uns nos outros aleatoriamente: uns de nós vão ficando, outros vão-se evaporando.
-Lembras-te de como nos
conhecemos?
Ele lembrava-se perfeitamente: um
amigo tinha-os apresentado por acaso. Ela achava-o demasiado sonhador. Ele
achava-a demasiado céptica. Naquele momento podiam ter seguido cada um o seu
caminho, mas não o fizeram. Ficaram, ficaram, ficaram e ficaram. Algo os
obrigava a ficar. Algo lhe dizia que ela fazia parte da tragédia dele. Apesar
de tudo o que os separava, havia algo que os unia. Essa era a busca dele. Essa
era a viagem
-Por que razão escreves tanto
sobre o amor?
-Porque não o entendo.
-Há assim tanto para entender?
Na verdade havia, há e continuará
a haver muito para entender. O amor é um bicho de sete cabeças, é um anão com
manias de gigante, – ou um gigante com manias de anão – é vilão e herói - no
mesmo filme e na mesma cena. Como explicar o amor? Por que razão não escrever
sobre o amor? Por que razão não lhe dedicar uma vida?
-É como procurares algo que sabes
que nunca vais encontrar...
Mas, pelo menos, não posso dizer
que não tento: todos os dias, a todas as horas, entre tantos outros assuntos,
ele está lá e eu estou lá com ele. Amo o amor e odeio o amor – às vezes ao
mesmo tempo. Talvez por isso
“Take the thing you love and make it your life”
Eu perca uma vida a tornar-me repetitivo,
ou a andar às voltas. Na verdade, nem eu sei de onde um dia parti, ou onde um
dia chegarei. Há viagens sem rumo: o amor é uma delas.
(E é um prazer partilhar convosco
as crónicas desta viagem.)
PedRodrigues
Adorei! Que escrita deliciosa.
ResponderEliminarVou adicionar-me no meu blog às minhas 'outras vírgulas' :)
O amor é um caminho sem metas, com atalhos e trilhos, com buracos e caminhos calmos... é uma continuidade e eternidade que ninguém sabe onde começa pois... também nunca acaba!
ResponderEliminar*
Adorei
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