E no final todos somos passado
guardado em caixas. Enterrados debaixo de sete palmos de entulho amoroso. No
final, nada. Fica o gosto salgado das lágrimas choradas, os papos e as
olheiras. Uma tristeza miudinha. Uma esperança abafada daquilo que podíamos ter
sido e acabámos por não ser. No final não há tempestade. Já lá vai. Passou. Ficam
as vozes que ainda ecoam por dentro, que não se calam, que nos acompanham
durante as noites de insónias. Ficam as memórias gravadas nos espaços que
partilhámos juntos. Eu marquei-te e tu marcaste-me. Os espaços nunca mais serão
os mesmos. Nada fica igual e, no entanto, nada mudou. Li uma vez que o amor é
uma força interior. É verdade. O amor remexe-nos por dentro. Constrói, ou
destrói. Mas tudo por dentro, nunca por fora. O amor, como amor, não tem força,
por si só, para construir, ou destruir castelos e cidades. No entanto, pode
mover os homens a fazê-lo. E foi isso que nos aconteceu. Fomos remexidos por
dentro. Nada está no seu lugar. Apesar de parecermos os mesmos, por fora, –
tirando uma ou outra ruga; uma ou outra olheira – estamos estilhaçados por
dentro. Agora somos passado guardado em caixas. Algo que julgamos estar mudo,
num canto, para sempre. Mas o passado não se cala. Pode falar baixinho, às
escondidas, mas não se cala. Pelo menos, por enquanto. Pelo menos enquanto esta ferida que arde por dentro não sarar. No final não há tempestade.
É isso que mais me assusta.
PedRodrigues
Se assusta...
ResponderEliminarMais um texto brilhante !
Incomoda mais do que andar há chuva!!!
ResponderEliminar