Não foi pelo primeiro olhar que
partilhámos – e acredita, pareceu eterno. Não foi pelo primeiro beijo: lábios
nos lábios. Não foi pela vontade revolucionária de mudar o imutável - tempo e
espaço - que me separavam dela. Não foi pela primeira conversa que tivemos: as
horas transformadas em palavras e sentimentos. Não foi nada disso. Nem sequer a
necessidade urgente de lhe dizer as palavras que se atropelavam por dentro como
que com pressa de sair. Nada disso. Não foram os suspiros que me percorriam o
corpo, na busca de segredos que teimava em tentar esconder. Não foram os sonhos
inventados de vidas futuras partilhadas lado a lado: ilhas na corrente. Não
foram as gargalhadas estridentes a ecoarem pelo quarto. Não foi nada disso.
Apesar de tudo isso parecer suficiente. Apesar de tudo isso parecer bastante.
Não foi pela sorte de a ter conhecido. Não foi pela estabilidade no meio do
caos, ou o caos no meio da estabilidade. Não foi pelo desafio de a fazer sorrir
a primeira vez. Não foi por nada disso. Nem dos olhos eu me esqueço, nem da
boca eu me esqueço, nem do nariz eu me esqueço, nem dos cabelos eu me esqueço,
nem do cheiro, nem dos sinais, nem das curvas, nem da voz. Mas não foi por isso
que me apaixonei por ela. Foi pela forma como ela dançava para mim, como se eu
cantasse uma música que só ela conseguia ouvir.
PedRodrigues
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