Mandem-nos daqui para fora que
aqui não fazemos nada. Mandem-nos emigrar que aqui não fazemos nada. Todos sabemos
que os países se constroem de fora para dentro. Todos sabemos que aqui não
somos precisos. Mandem-nos embora porque a cultura assusta. Mandem queimar os
livros antes que alguém se revolte. Mandem os nossos avós novamente para o
campo e para o mar que o país precisa de mais um pouco do suor deles.
Mandem-nos ter calma que mandar num país não é pêra doce. Mandar num país não é
como pegar numa enxada: é preciso perícia e muito patoá. Não sejamos tolos que
governar tira anos de vida. O que são uns quantos de calos nas mãos quando
comparados com o desgaste de horas de maquilhagem e preparação para entrevistas?
Deixemo-nos de pieguices que não é fácil jogar aos economistas. Deixemo-nos de
queixumes que a vida está difícil para todos. O sol, o ar, a chuva, entre tantas outras
coisas ainda são de borla. De que nos queixamos nós? De que nos queixamos nós quando
os verdadeiros mártires estão todos no Palácio de São Bento? Mandemos uma carta
ao Papa para os canonizar a todos e aproveitemos, já agora, para pedir que nos
conceda o perdão eterno.
Sejamos pacientes e não mendiguemos.
Há todos os dias uma nova solução para esta situação. Basta olharmos para as
contas chorudas que para aí andam. Tenhamos pena dos banqueiros corruptos que
não fizeram mal a ninguém. A culpa é dos números, que acabam sempre por
atrapalhar. Acreditemos cegos na justiça míope. O que não falta por aí são
inocentes a serem acusados injustamente. Pobres coitados que não são mais que
vítimas deste mundo cruel. Mandem-nos calar que não somos exemplo para ninguém.
Somos a geração rasca e sem ponta por onde se lhe pegue. Mandem-nos, mais uma vez,
lá para fora, para que possamos brilhar e ser idolatrados pelo resto do mundo.
Ao que parece, aqui, acabamos por nos eclipsar. Mandem-nos para longe dos
nossos pais e de tudo aquilo que conhecemos. Mandem-nos apertar o cinto, os
atacadores e uma corda ao pescoço. E se mesmo assim tivermos a insolência de piar:
mandem-nos à merda. Nós somos um povo tão fraco que (ainda) vos deixamos governar.
PedRodrigues
Mai' nada!! :)
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