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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Politicamente correcto (?)


Mandem-nos daqui para fora que aqui não fazemos nada. Mandem-nos emigrar que aqui não fazemos nada. Todos sabemos que os países se constroem de fora para dentro. Todos sabemos que aqui não somos precisos. Mandem-nos embora porque a cultura assusta. Mandem queimar os livros antes que alguém se revolte. Mandem os nossos avós novamente para o campo e para o mar que o país precisa de mais um pouco do suor deles. Mandem-nos ter calma que mandar num país não é pêra doce. Mandar num país não é como pegar numa enxada: é preciso perícia e muito patoá. Não sejamos tolos que governar tira anos de vida. O que são uns quantos de calos nas mãos quando comparados com o desgaste de horas de maquilhagem e preparação para entrevistas? Deixemo-nos de pieguices que não é fácil jogar aos economistas. Deixemo-nos de queixumes que a vida está difícil para todos. O sol, o ar, a chuva, entre tantas outras coisas ainda são de borla. De que nos queixamos nós? De que nos queixamos nós quando os verdadeiros mártires estão todos no Palácio de São Bento? Mandemos uma carta ao Papa para os canonizar a todos e aproveitemos, já agora, para pedir que nos conceda o perdão eterno.

Sejamos pacientes e não mendiguemos. Há todos os dias uma nova solução para esta situação. Basta olharmos para as contas chorudas que para aí andam. Tenhamos pena dos banqueiros corruptos que não fizeram mal a ninguém. A culpa é dos números, que acabam sempre por atrapalhar. Acreditemos cegos na justiça míope. O que não falta por aí são inocentes a serem acusados injustamente. Pobres coitados que não são mais que vítimas deste mundo cruel. Mandem-nos calar que não somos exemplo para ninguém. Somos a geração rasca e sem ponta por onde se lhe pegue. Mandem-nos, mais uma vez, lá para fora, para que possamos brilhar e ser idolatrados pelo resto do mundo. Ao que parece, aqui, acabamos por nos eclipsar. Mandem-nos para longe dos nossos pais e de tudo aquilo que conhecemos. Mandem-nos apertar o cinto, os atacadores e uma corda ao pescoço. E se mesmo assim tivermos a insolência de piar: mandem-nos à merda. Nós somos um povo tão fraco que (ainda) vos deixamos governar.

 

PedRodrigues

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