É
esta teimosia tua em aparecer quando não deves; esta vontade de me atormentares
sem aviso prévio; este ressuscitar sem convite. É tudo isso que me faz ferver o
sangue. Ando mais magro, nervoso e irritadiço. Quando julgo que te esqueci,
apareces vinda sei lá de onde. Às vezes numa fotografia que andava perdida pelo
computador, outras vezes nas atualizações das tuas amigas. Apareces sempre a
sorrir – o habitual em ti. Apareces linda: de lábios vibrantes e iluminada por
uma luz hipnotizante. Dou por mim a lamentar-me
-Já
me esqueceu…
Fechado
em copas a olhar-te à lupa. À procura de não sei muito bem o quê. Ao que parece
já me esqueceste – e estás no teu direito. Há meses que não te vejo: desde que
tudo terminou naquela tarde de Agosto. Minto: vi-te uma vez, à noite, em
Setembro. Andavas no teu jeito habitual: a cambalear nas incertezas da calçada –
e do destino. A vida tem o condão de separar aqueles que não têm força
suficiente para seguirem juntos a sua corrente. Acho que nós não conseguimos
fugir à regra. Lutámos, sei que lutámos,
mas acabámos por perecer. Sempre fomos uma espécie de bombas relógio, cada um à
sua maneira. Não me lembro do momento exacto em que explodimos, mas o facto é
que aqui estamos: estilhaçados, partidos, mutilados, cada um no seu canto.
Hoje,
neste momento
-Sou
apenas uma memória…
Apenas
uma memória. Estranhamente não me importo se sou uma boa memória ou uma má
memória. Sou uma memória, ponto final. Acho que é isso que me irrita. Irrita-me
pensar que já não faço parte do teu dia a dia. Irrita-me pensar que as minhas
fotografias, ao contrário das tuas, não teimam em aparecer do nada. Irrita-me
este ligeiro egoísmo que sinto sempre que te imagino a partilhar os olhares, as
carícias, as palavras com outra pessoa. Irrita-me tudo o que me leva a ti,
porque, no final das contas, és um caminho sem saída. Uma estrada que vai dar a
lugar nenhum. Irrita-me que depois de tudo o que passei ainda me faça confusão
imaginar as tuas gargalhadas. Irrita-me que me irrites, isso sim. Até porque já
chega de seres esse monstro no armário que teima em sair quando eu teimo em não
adormecer. Já chega de seres o alerta amarelo e laranja e vermelho que me abala
os nervos. Já chega.
E é
talvez por sentir que já estou farto deste cabo das tormentas que começo a
navegar para novos mares. Começo a redescobrir o caminho para a Índia do meu
coração. A verdadeira Índia do meu coração. É talvez por isso que diga
-Estou
apaixonado
Alto
e em bom som, para que todo o meu corpo oiça. É talvez por isso que me encontro
numa nova jornada. Uma jornada em que o amor é a única resposta. A única resposta.
É este o lado poético da vida: a cada falsa partida, há uma nova oportunidade.
Deve ser por isso que ainda vou sorrindo estupidamente. Talvez um dia a memória
sejas tu. Acho que hoje a memória és mesmo tu.
(Deixa-me
gritar bem alto
-Estou
apaixonado!)
PedRodrigues
Parabéns Pedro! Está tão mas tão fantástico!
ResponderEliminarPerfeito. Parabéns :)
ResponderEliminarParabéns Pedro por mais um texto, por mais palavras, por mais emoções, por mais sentimentos. Obrigada por me fazeres crescer a cada frase que escreves. Obrigada. Não é um agradecimento lançado como quem diz "amo-te" nos dias atuais, é um agradecimento do fundo do meu coração. Porque tudo o que fazes, vem do fundo do teu. Obrigada.
ResponderEliminarObrigada.
Obrigada.
(Obrigada).
Continua a escrever, mais e mais.
Todos os dias venho ao teu blog na esperança de mais um texto. Obrigada.
Parabéns mais uma vez! Gostei muito. Incrivel a forma como nos consegues transmitir todos estes sentimentos.
ResponderEliminarPedro, leio teus textos como quem busca um alento. Quem é poeta sabe e sente o coração do outro. Admiro tua escrita, e por muitos dias e noites, debruço nela meus pensamentos sem rumo. Como andorinha que sobrevoa o mar, fico a buscar nas tuas palavras aquilo que gostaria de ter escrito, eu mesma.
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