Digo adeus às árvores e
avanço. O caminho já tem algumas folhas caídas e cheiro a terra molhada. Olho o
céu e procuro os pássaros. No meu peito eles não cabem, e talvez por isso eu
não seja capaz de voar. Pergunto-me várias vezes por que motivo continuamos a
fazer as mesmas coisas, a repetir os mesmos erros. Talvez percamos demasiado
tempo a combater os monstros que vivem dentro de nós. Uma voz aponta-me sítios
que havia esquecido. Um dia fui jovem e a minha única preocupação era viver
tudo de uma vez. E de tanta pressa ter, perdi a noção do espaço e do tempo. As
manhãs nasciam com cores que hoje não lembro; as noites acabavam com os copos
vazios e uma nova paixão de bolso. Amores foram passando, sem que nunca
prestasse verdadeira atenção aos contornos dos seus lábios. Talvez nunca lhes
tenha dado a atenção devida. Era jovem e parvo. Nunca tinha percebido a
verdadeira beleza de acordar de manhã com alguém que amamos ao lado. Agora
talvez me falte o tempo para procurar novamente essas cores que um dia foram
minhas e não soube guardar – tal como ela. Agora o cheiro do Verão desapareceu.
Só espero ir a tempo de sentir a Primavera. Ver o desabrochar das flores; ouvir
o canto das andorinhas; aguardar que as lagartas saiam borboletas dos casulos;
transformar-me.
Amanhã acordarei antes do sol
nascer. Quero guardar-lhe as cores, enquanto te tenho ao meu lado. Nesta vida
estamos condenados à dolorosa passagem do tempo. Talvez daqui a uns anos não
acorde com dores no peito. Dizem que a saudade é isso: um aperto no peito.
Estamos sempre a aprender.
PedRodrigues
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