Eventualmente
tudo acaba. Nada fica como um dia foi porque tudo está sujeito a uma mudança.
Tudo nos parece passageiro, porque tudo é passageiro. Um dia deixámos de ser
dois estranhos e passámos a ser dois conhecidos. Um dia passámos a ser mais que
conhecidos: fomos amantes, cúmplices, compinchas, comparsas, companheiros de
crimes de cabeceira. Hoje somos o pó que sobrou dessa luta. Tudo se transforma,
a verdade é essa. No dia em que as coisas acabam rastejamos cada um para o seu
lado conscientes que temos toda a razão do mundo. Esperneamos, esbracejamos, berramos
bem alto, choramos de raiva. As coisas acabam, mas nunca acabam por nossa
culpa. Passamos a batata quente para o outro lado. Não queremos saber de nada,
nem de ninguém. Fechamo-nos em insultos vãos. Achamos que estamos melhor assim,
mas nunca estamos. Temos medo. Não temos
medo de ficar sozinhos. Não temos. O nosso medo é o medo da superação. Temos
medo que avancem sem nós. Encaramos a situação como um jogo e como bons
jogadores que somos, temos medo de perder. Mas há coisas que vão ficando
connosco e não nos deixam avançar. Mudamos o nome da lista telefónica,
esperançosos que isso nos ajude nessa jornada. O que um dia foi a alcunha
amorosa, hoje é o simples nome: seco, sem chama, mortiço. As mensagens que um
dia foram o motivo de maior orgulho, hoje são apenas recordações dolorosas.
Apagamos tudo, mas nem tudo permanece apagado. Há marcas que continuam
vibrantes na carne, há roupas que teimam em aparecer nas gavetas, há tudo
aquilo que sobra daqueles dias em que o sol brilhava e a lua era cor de pérola.
Há essas coisas e aquilo que fomos nessas coisas. E a verdade é que quando a
poeira assenta nós temos saudades de tudo. Temos saudades das roupas, das
marcas, dos sorrisos, das alcunhas… Temos saudades de tudo porque um dia
tivemos tudo. E ninguém está preparado para ficar com nada depois de ter tido tudo. Quando
olho para trás consigo ver-me mais feliz que hoje. Quando olho para trás
consigo ver-me mais completo. Não ligues a tudo o que digo da boca para fora,
ou aos sorrisos que invento na urgência de me mascarar. Sabes, as aparências
iludem e aparentemente sou péssimo a disfarçar.
PedRodrigues
Muito bem escrito Pedro. Escreveste tudo aquilo que eu já senti e que nunca consegui explicar. Sem dúvida que me identifiquei e compreendo aquilo que estás a sentir.
ResponderEliminarEncontrei o teu blog por acaso. Decidi comentar este texto, como poderia ter sido outro qualquer. Isto para te dar os parabéns, porque são todos fantásticos!
ResponderEliminarUau! Parabéns!!!
ResponderEliminarEncontrei este texto, partilhado numa pagina de facebook, e ainda só li este texto... mas já estou completamente rendida a este blog!!!
Vou já ler tudo o que puder :))
Muitas pessoas vão identificar-se com este texto porque todos nós já amámos e fomos amados... já todos nós sofremos e fizemos sofrer alguém... mas nem todos conseguem exprimir, como tu o fizeste e muito bem, o que se passa quando sofremos por amor :)
Parabens.
ResponderEliminarEstou completamente rendida a este blog e aos textos, é impressionante a maneira como se faz exprimir.
A maioria das vezes é como se eu estivesse a ler o que estou a sentir naquele momento mas não consigo explicar.
Continue e felicidades!
Cumps
magnifico :')
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