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sábado, 22 de setembro de 2012

O amor que respiramos


Amamo-nos à distância do ar que respiramos. Aqui em casa, amamo-nos à distância do ar que respiramos. Se nos imaginar de olhos fechados sinto-nos no ar. Cada um de nós tem o seu espaço. Cada um de nós ocupa esse espaço como se fosse seu – e é. Na verdade estamos distantes, mas continuamos juntos. Às vezes não nos falamos durante a eternidade dos minutos, mas estamos juntos e estamos felizes quando estamos juntos. Às vezes somos quatro, outras vezes somos três, outras vezes somos dois e às vezes estamos sozinhos por aí. Nunca nos separamos totalmente porque a distância não é inversamente proporcional ao amor. Amamo-nos sempre. Amamo-nos à distância do ar que respiramos: essa é a grande verdade. Nem tudo na vida nos corre bem. Nem sempre o vento sopra a favor. Nem sempre somos quatro aqui por casa. A verdade é que somos parte do mundo, mas o mundo acontece à nossa volta. Somos um núcleo. Somos um núcleo compacto. O mundo teima em acontecer e nós teimamos em ficar unidos. Unimo-nos mesmo quando somos apenas um. Nada nos separa, porque nada nos consegue separar. Um dia fomos cinco. Nesse dia éramos mais felizes, mas esse dia acabou por passar. Hoje somos quatro mais um. Não estamos os cinco, mas continuamos a respirar do amor dos cinco. E é isso que nos torna tão especiais, é isso que nos torna tão completos: amamo-nos à distância do ar que respiramos. Enquanto um de nós respirar, nós seremos um núcleo compacto de amor que não se esgota. Enquanto um respirar, viveremos todos, seremos todos aquilo que somos. Não acredito na morte pela distância, nem na rotura pela solidão. Enquanto respirarmos amor não vivemos sozinhos. Tenho pena daqueles que não entendem a fibra do amor. Tenho pena dos que vivem dos quases e de todos os outros que têm dificuldade em perceber a receita do amor. Nem tudo o que brilha é ouro. Nem tudo o que aparenta ser amor, é amor. Não nos contentemos com metades. Não nos deixemos enganar pela irracionalidade dos impulsos que nos movem. Agradeço todos os dias o meu lugar neste núcleo. O amor que respiramos é inesgotável. O amor que respiramos faz-nos felizes. Um dia fomos cinco, mas esse dia passou. Hoje somos quatro mais um. Não estamos os cinco sentados pela sala, mas continuamos a ser cinco no interior de cada um.

PedRodrigues

3 comentários:

  1. Quem te manda andar a escrever tão bem e eu só hoje ter esbarrado aqui?

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  2. Adoro os seus textos, são fantásticos, parabéns..

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  3. fantástico!! gosto muito de tudo o que escreve, mas este texto esta "sublime". Parabéns!! que bom ter-me cruzado com os seus textos. Eles são inspiradores. Continue, eu estarei aqui sempre a le-lo. Sofia Agapito

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