No
outro dia na rua
-Eu
gosto de ti, mas…
Um
casal de miúdos, de mãos dadas, ele para ela
-Gosto
de ti, mas não passa disso.
Enquanto
ela, desgostosa, de lágrima fácil a pingar do olho, a fugir-lhe com os dedos
-Então
por que me iludiste?
E
eis que a questão se mantém até hoje na minha cabeça: onde começa e onde acaba
essa coisa do gostar com reticências? Depois há aquela coisa do gostar com
muitas cores. Dos amores às cavalitas dos arco-íris. Há a ilusão do amor e os
ilusionistas do amor. Hoje em dia está na moda o amor assim e assim. Nunca
entendi muito bem essa coisa dos amores assim e assim. Nunca entendi aquela
coisa do: hoje gosto, mas amanhã logo se vê. Não consigo entender isso porque,
para o bem ou para o mal, tenho para mim que o amor é uma espécie de veneno que
talvez cure, é uma faca que nos vai mutilando lentamente, ou outra coisa
qualquer que nos vai dilacerando as entranhas. Custa-me acreditar nas pessoas
que gostam com reticências e que amam com cláusulas contratuais. Custa-me
assistir ao declínio do Amor. À banalização dos beijos e à encenação dos gestos
românticos – ou vice-versa. De maneira que olho o mundo com uma desconfiança
terrível. Assusto-me quando ouço
-Sinto
borboletas no estômago
Pessoas
de sorrisos nos lábios a trocarem impressões sobre o amor: cheias de certezas e
cobertas de dúvidas camufladas. Penso para mim
-Borboletas?
(As
imagens de quem amo na minha cabeça.)
Assusto-me
novamente. Assusto-me porque nunca senti nada parecido. Todos me falam em
unicórnios e estrelas e corações vermelhos e perfeitos. Todos me falam em
borboletas, mas eu não sei o que isso é. Eu sinto cólicas, dores, tremores por
todo o corpo. E depois há um frio que me gela dos pés à cabeça. Fico estático a
olhar para ela. É estranho. Juro que é estranho. Há quem pinte quadros em volta
do amor. Eu não encontro cores suficientes para o fazer. Talvez possa descrever
o meu coração. Talvez possa dizer que é vermelho carne e que sangra como a carne
de quem sente. O amor dói, o verdadeiro amor dói. Mas é essa dor que o torna
tão bom. É essa dor que o torna tão intenso. Aliás, é essa dor que o torna
real. É essa dor e não
-Sinto
borboletas
Os
cenários que montam em volta da palavra. É o sentir na carne que se esmaga
contra os ossos só de pensar em dizer
-Amo-te
Nunca
-Gosto
de ti, mas…
Sentir
sem reticências. Olhar e tremer. Tremer muito. Ansiar pelos momentos que virão.
Imaginar as estantes cobertas de fotografias. Imaginar-nos a olhar para essas fotografias
e sorrir. É nesse momento em que sorrimos sem saber porquê, nesse momento de
alegria pura, que descobrimos
-Sou
feliz
(E
quem nos ama de volta, num princípio de vasos comunicantes, nos retribui esse
sorriso
-Eu
também sou feliz. Ao teu lado eu também sou feliz.)
O
que é o Amor. Não há cores suficientes para pintar o amor. Não há fórmulas mágicas
para amar. Mas se te conseguires imaginar emoldurado, a sorrir eternamente ao
lado da mesma pessoa, podes acreditar que estás no bom caminho…
PedRodrigues
Bom dia Pedro,
ResponderEliminarAs borboletas, são a metáfora dos poetas para a revolta do estômago, que tenho a certeza (pela que te leio) também sentes.
Um beijo, dos simples!
As borboletas são simplesmente as metaforas vertiginosas da paixão, na procura incessante da metamorfose do amor
ResponderEliminarBorboletas todos sentem, amor, poucos sabem o que é!
ResponderEliminarAdoro a maneira como o Pedro se expressa!! Muitos parabéns pelos lindos escritos :)
ResponderEliminarfantástico........
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