O que mais me custou foi aquele
último abraço, depois de lhe ter dado o livro. Não lhe disse “adeus, até um dia”,
disse “adeus, até já”. Não quis juntar uma massa temporal tão grande a um
espaço tão pequeno. Aos amigos que partem, desejo que voltem. Foi isso que lhe
disse “até já”. Para a semana não lhe vou enviar uma mensagem a avisar a hora do jogo de
futebol, nem a combinar uma jantarada de amigos - sei, à partida, que ele não vai
aparecer. Agora todas as mensagens que trocarmos serão escritas com saudade. Com
vontade de quebrar os milhares de quilómetros que nos separam, o fuso-horário
que nos troca as voltas. Durante a partida desejamos a chegada, durante a
chegada desejamos que o tempo pare, que o mundo se esqueça de nós. Somos
obrigados a emigrar. A construir novas casas, novos lares. A necessidade assim
o obriga. Deixamos o coração em casa e partimos vazios à espera de algo que nos
preencha. Procuramos novas fundações onde nos possamos reinventar. Andamos,
caímos, levantamo-nos. É isso que espero dele, do outro lado deste mundo que
teima em girar de forma caótica. Desejo que ele se reinvente e prospere. Deste
lado, nós vamos tentar fazer o mesmo. Um dia voltaremos a estar todos juntos,
noutro lado qualquer, num outro fuso-horário qualquer. Depois abraçamo-nos
novamente e dizemos “adeus, até já”. Porque é isso que somos: o regresso, no
momento da despedida. Até já.
PedRodrigues
Comentei no instagram, mas tenho que comentar aqui também...
ResponderEliminarE este acabou por se tornar num dos meus textos preferidos! Está lindo, Pedro.
Um "até já" nunca devia demorar mais que um dia!
essa história já me aconteceu mais vezes do que as que gosto de lembrar :( gostei, vou voltar*
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