Lá fora chove. O céu parece
querer desabar sobre as cabeças de quem anda na rua. Pergunto-me por que razão
olhamos tantas vezes o céu. Talvez o céu seja apenas algo bonito de se olhar, ou talvez procuremos respostas. O céu não nos responde. O céu chove sobre as
nossas cabeças. É o que o céu sabe fazer, aquilo para que foi criado. Diz-se
que a chuva, por vezes, é uma bênção; outras vezes é uma maldição. Aqui dentro,
no meu bloco de papel, perco-me em analogias entre a chuva e o amor. Descobri,
no meio desta confusão de palavras, uma ténue verdade que talvez mais tarde
venha a refutar. Vivemos na crença do amor perfeito. Procuramos algo que não
existe, que nos foi contado pelas histórias que terminavam invariavelmente num
“felizes para sempre”. Criámos uma ilusão do amante perfeito, aquele que
compreende as sete cores do nosso arco-íris. Mas ninguém é de barro. Ninguém se
molda à nossa vontade. Ninguém é perfeito. Ninguém entende as sete cores. Todos
temos as nossas dúvidas, as nossas inseguranças, as nossas confusões, as nossas
lutas pessoais. Somos seres falíveis. “Perfeitamente defeituosos”, como ouvi
uma vez. Nem sempre a chuva que cai do céu é uma bênção. E nem sempre os outros
nos vão agradar incondicionalmente. Temos de os aceitar por aquilo que são e
não por aquilo que poderão ser. Talvez nesse momento sejamos mais felizes. Um
mundo sem erros é como um céu sem chuva: no meio da seca, acabamos por ter
saudades de nos molhar.
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